English version

Fernando Pessoa

Poemas


O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo... 

Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar, é não compreender... 

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar, é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo... 

Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se, falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar... 

Amar é a eterna inocência, 
E a única inocência não pensar... 

Alberto Caeiro,1914



Outros Livros



Desenvolvido por Bizview - Sistemas e Comunicação