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Alves Pinto

Alma Grande no Meu País, © 2007


Gostava de ser diferente, descrente do futuro
E viver somente o presente, desprendido no dia-a-dia,
Talvez assim fosse mais feliz, e não sofreria.

Com as dores de parto do infinito, que mais parecem
Pedras de granito a desfazerem-se no meu peito,
De que matéria sou feito! Ó destino, que tumor aflito.

Por que não me tens na boca um apito?
Por que não me dás um lancinante grito?
Por que não me berras ao ouvido?

Por que não me fechas as portas da madrugada?
Por que não me abandonas de vez ao nada?
Por que não me assassinas com a tua amada?

Gostava de ser uma alma silenciada
E adivinhar os meus passos curtos,
Para que o meu olhar não precisasse de ver mais longe.

Gostava de não ser o atleta
Que leva o testemunho da descoberta
Na tentativa suprema da escrita.

Gostava de ser o homem sem o pulmão
Para não sofrer de cancro,
Que me fizesse atleta de flecha e arco.

Gostava de ser uma ideia certa
E que a frase tivesse um travessão
Que servisse de almofada à minha ilusão.





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